Hoje visitamos uma miniatura histórica que aconteceu no torneio de Gibraltar em 2006. Na contenda estavam Peter Wells (GM inglês) de brancas, e Alexey Shirov (GM nascido em Riga na Letónia, mas aquando desta partida jogava pela seleção espanhola) de negras. Quando esta partida foi jogada Shirov era um adversário arrasador. Um dos melhores jogadores de xadrez daquela época, com um estilo vincadamente de ataque e muito ousado.
Antes de entrar na partida, lembramos aqui uma das melhores jogadas de todos os tempos, numa partida entre V. Topalov e A. Shirov, em 1998, quando ao 47º lance (posição seguinte) as negras retiram da cartola um lance galáctico, absolutamente surpreendente e esmagador – 47. … Bh3!!
Topalov
ainda tentou jogar, mas após mais meia dúzia de lances rendeu-se à
evidência da força dos Peões negros apoiados (48.gxh3 Rf5 49.Rf2 Re4
50.Bxf6 d4 51.Be7 Rd3 52.Bc5 Rc4 53.Be7 Rb3 0-1).
Peter Wells, com menos 200 ponto ELO do que Shirov, estudou bem o adversário. Escolheu o ataque Trompowsky e após o oitavo lance das negras a posição no tabuleiro era a do quadro seguinte.
Nesta posição as brancas têm uma situação confrangedora, com o ataque das negras à ala de dama e estão na eminência de perder peça ou manter a defesa de b2 e, ficar em desvantagem de desenvolvimento e de material. As brancas jogaram pelo desenvolvimento 9. Dxf4, que os analisadores electrónicos consideram um erro, mas que os comentadores especializados classificam com pontos de exclamação (sobre as dificuldades das máquinas falharem na avaliação de certas posições é interessante ler o artigo, publicado há dois dias no jornal inglês The Telegraph).
Após o lance 9 de Shirov a posição (acima) é aparentemente agonizante para as brancas. O exército negro ameaça desfazer toda a ala de dama e não se imagina como poderão as brancas contestar…
…. Nesta situação Wells calmamente domina a situação e inicia uma fabulosa manobra com Cavalo de Rei para enclausurar a Dama negra: Ce2 – Cec3. Esta poderosa manobra de cavalo é ilustrada na abertura deste apontamento pelo um cavaleiro mameluco, daquela poderosa casta militar que liderou o Egipto entre os séculos XIII e XVI (desenho de Carle Vernet em 1810| Crédito http://pt.wikipedia.org). Após o lance 11 de Wells a situação no tabuleiro é a que se mostra de seguida.
A posição aparentemente mudou de pendência. As negras continuam à frente em material, mas as brancas dominam em espaço e desenvolvimento; os analisadores electrónicos dão possibilidades semelhantes para ambas as partes. Porém, as brancas ameaçam encarcerar definitivamente a Dama adversária (12. Dd2) e, também, mantém iniciativa de ataque, nomeadamente nas casas negras à volta do Rei (12. d6).
As negras optam para impedir o sequestro da sua Dama, e após o lance 13º das brancas chegamos à posição do quadro abaixo, onde a supremacia de Wells levou Shirov, simplesmente, a abandonar. A partida poderia ter continuado por exemplo na linha seguinte 13.De3 Cc6 14.Bd3 Db2 15.O-O e6 16.Df4 Tg8 17.Df6 Tf8 18.Be4 Db6 19.Cb5 com a ameaça de mate no ar.
Nunca antes Shirov tinha perdido uma partida em tão poucos lances. Peter Wells tinha feito um bom trabalho de casa. Wells reconhecendo o estilo do adversário escolheu uma abertura onde Shirov se sentisse como peixe dentro de água, e nem desconfiasse do que lhe estava preparado. Esta partida, até ao lance 12 de brancas, é uma réplica exata de uma partida jogada no campeonato holandês em 1994, entre J. Hodgson – J.Van der Wiel, e ganha também pelas brancas. No final poderão ver todos os movimentos desta miniatura histórica.
Notas Finais:
1) Para quem gosta de chocolate recomendamos o Mercado de Chocolate no Mercado da Trafaria de 16 a 19 de março (mais informações aqui).
2) Relembramos o VI Open de Xadrez Vila Nova de Caparica que acontece a 25 de março (mais informações aqui).
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