segunda-feira, março 6

As mais antigas peças de xadrez: exército viking


Os pés afundam-se na areia passeando entre as dunas. A brisa marinha refresca e as ondas do mar relaxam o fim de tarde! O Sol laranja pinta o horizonte. As gaivotas grasnam em volta. Eis que um pé tropeça numa rocha entre a areia.

Senta-se. As suas mãos afastam a areia. Não é uma rocha. Curioso! Afasta mais a areia. Vai pondo à vista uma pedra. Não, não é uma simples pedra. Talvez uma caixa, ou uma mala de pedra. Afasta mais a areia. Quer ver para dentro. Tenta abrir. Ufa … não é fácil. Mais uma tentativa. Desiste?

Finalmente, lá se abre a mala de pedra. Ena a mala está cheia! Pequenas figuras num material estranho. As figuras bem definidas, ricas de pormenores, evidenciando expressões de espanto. Existem sequências de peças. São peças de xadrez especiais. Nunca antes tinha sido visto nada assim. Parece um exército viking!


Esta é uma das histórias que se pode contar sobre o aparecimento das mais antigas peças de xadrez, que foram encontradas numa praia da ilha de Lewis (norte da Escócia), em 1831. O tesouro encontrado tinha 93 esculturas. Destas, 78 eram peças de xadrez. A maioria das peças esculpidas em marfim de morsa e, algumas, em dente de baleia, com alturas variáveis entre 4 e 10 cm.

Estas peças são o mais antigo conjunto de xadrez conhecido, datado do século XII (1150-1200). São uma atracção do British Museum, em Londres, e de alguns museus Escoceses. Naturalmente, existem hoje interessantes réplicas destas fabulosas peças. 


A ilha de Lewis no século XII fazia parte do reino Viking. É possível que as peças tenham chegado à ilha através de algum rico mercador, que por razões desconhecidas aí as tenha abandonado. Acredita-se que as peças tenham origem na Escandinávia (Noruega, Dinamarca e Suécia), base do reino Viking. Até porque seria aí, mais facilmente encontrados os materiais das esculturas e os habilidosos mestres artesão que tão bem as esculpiram. 

Este achado é valioso em muito aspectos. Por exemplo, é demonstração das qualidades artísticas e de trabalho dos artífices da época.  Mas, também, constitui um testemunho inexpugnável  do interesse que o xadrez despertava em plena idade média. Desde o Sul, onde terá chegado pela acção dos Mouros, como já vimos, disseminou-se por todo o continente chegando mesmo às regiões mais longínquas a norte da Europa. Aí, não só seria objecto de prática dentro da comunidade, como também constituía valioso bem nas trocas comerciais.

Falamos disso a propósito do VI Open de Xadrez Vila Nova de Caparica que acontece já a 25 de março. Venham jogar nesta prova que é a mais antiga prova do Clube Peões da Caparica (CPC). Iniciou em janeiro de 2010, cerca de 1 mês e meio depois do CPC ter sido constituído.


Para o cartaz desta prova, o criativo José Borges (também tesoureiro do CPC) escolheu uma rica imagem do maior tesouro do xadrez do mundo. No cartaz acima, parece estar a haver uma reunião entre as enigmáticas figuras do Xadrez de Lewis, da esquerda para a direita: Rei, a sentinela – a Torre, e a Rainha. Todos de olhos arregalados focados no fundo do horizonte, surpreendidos ou em preparação para mais uma batalha? 

O Rei está numa posição impassível e concentrado no que aí vem… Num exército móvel, como era o Viking, a Torre é representada pela sentinela. A sentinela de olhos arregalados, queixo caído sobre o escudo e dentes cerrados. Parece estar mais que pronto para a batalha. Por ali não passa nada…. A Rainha está em posição contemplativa. 

Neste ambiente, reitero o desafio para participarem nas batalhas do VI Open de Xadrez Vila Nova de Caparica (inscrições através de e-mail; regulamento; lista de inscritos)
 
Créditos imagens British Museum. Mapa https://www.viamichelin.pt/