Por volta do ano de 1985, estando há cerca de 2 anos no concelho de Torres Novas, onde realizei o ensino secundário, participei com diversos amigos - António Alves, Vitor Antunes (ambos ainda jogadores regulares), e outros - na criação do Grupo de Xadrez de Torres Novas. Este clube teve como padrinho Canais Rocha o director do jornal local - O Almonda.
Peça de xadrez feita de miolo de pão do filme alemão Schachnovelle |
Esta nova colectividade, não dispondo de espaço próprio ocupou provisoriamente um espaço partilhado por diversos partidos políticos, e pela Associação Portugal-URSS. Após um ano, mudamos de instalações para o velho quartel dos bombeiros. O Grupo de Xadrez de Torres Novas participou activamente nas provas distritais, fazendo deslocações aos concelhos vizinhos e outros. Uma das deslocações que mais memória me deixou foi em equipa até à distante freguesia do Couço, bem a sul do distrito de Santarém. Esta deslocação terá acontecido em maio, altura em que o Couço, parecia uma ilha, rodeado por campos de arroz.
Estava a pesquisar sobre o nome do Clube que visitamos no Couço - que só pode ter sido a União Desportiva do Sorraia (embora o jogo tenha decorrido na escola primária) que se inscreveu na Federação Portuguesa de Xadrez em 1984 - quando dei com um interessante trabalho que partilho convosco:
MEMÓRIAS DA RESISTÊNCIA RURAL NO SUL, Couço (1958-1962), Paula Godinho - Dissertação de Doutoramento, Universidade NOVA de Lisboa, 1998.
Percorrendo este trabalho dei com interessantes referências testemunhais sobre as práticas lúdicas de xadrez nas prisões politicas portuguesas, que partilho convosco.
“O dia de sábado era dedicado a uma actividade mais lúdica. (…) havia até quem jogasse o xadrez. Isto em todas as cadeias, havia em Peniche e em Caxias também, havia até campeonatos de xadrez. Faziam-se as peças com pão. Pessoas habilidosas, com o miolo do pão que eles distribuíam.
Arménio Marques Gil
“Só visto, e o coração lá dentro: uma vez estava a jogar ao xadrez mais o Zé Victoriano. Estávamos a jogar, e estávamos assim mais um bocadinho retirados da porta. Diz assim o guarda: «Os senhores, se quiseram jogar ao xadrez venham aqui para o pé da porta, que aí não jogam». E o que é que a gente pensou: «Então, se só jogamos aí ao pé da porta, já não jogamos». «Então já não jogam?» «Não»(...) Muitas coisas destas, e o coração estava sempre em primeiro lugar.”
António Oliveira
MEMÓRIAS DA RESISTÊNCIA RURAL NO SUL, Couço (1958-1962), Paula Godinho - Dissertação de Doutoramento, Universidade NOVA de Lisboa, 1998.
Percorrendo este trabalho dei com interessantes referências testemunhais sobre as práticas lúdicas de xadrez nas prisões politicas portuguesas, que partilho convosco.
“O dia de sábado era dedicado a uma actividade mais lúdica. (…) havia até quem jogasse o xadrez. Isto em todas as cadeias, havia em Peniche e em Caxias também, havia até campeonatos de xadrez. Faziam-se as peças com pão. Pessoas habilidosas, com o miolo do pão que eles distribuíam.
Arménio Marques Gil
Fortaleza de Peniche |
“Só visto, e o coração lá dentro: uma vez estava a jogar ao xadrez mais o Zé Victoriano. Estávamos a jogar, e estávamos assim mais um bocadinho retirados da porta. Diz assim o guarda: «Os senhores, se quiseram jogar ao xadrez venham aqui para o pé da porta, que aí não jogam». E o que é que a gente pensou: «Então, se só jogamos aí ao pé da porta, já não jogamos». «Então já não jogam?» «Não»(...) Muitas coisas destas, e o coração estava sempre em primeiro lugar.”
António Oliveira
Saber mais em:
http://doportoenaoso.blogspot.pt/2010/08/o-porto-onde-nasci-e-cresci1.html
https://run.unl.pt/bitstream/10362/3600/1/paula%20godinho.pdf
http://doportoenaoso.blogspot.pt/2010/08/o-porto-onde-nasci-e-cresci1.html
https://run.unl.pt/bitstream/10362/3600/1/paula%20godinho.pdf