sábado, maio 6

Fischer contra Spasky visto do pós PREC


Podemos perguntar-nos como seria o Xadrez após a Revolução de Abril e após o período do PREC (Processo Revolucionário em Curso), isto é, por volta do ano de 1976. Comece-se por observar o cartaz do Campeonato Nacional de Rápidas de 1976 (de dimensão A3, com o regulamento no verso do cartaz), que aconteceu em Abrantes, com o deste ano que irá acontecer aqui em Almada. Muito interessante ver o Xadrez Ribatejano ter um peso considerável nesses anos.
Fernando Silva - Campeão Nacional de Xadrez de 1975-1977 (lista completa)|@ RPX in FPX
As publicações na área do xadrez eram inexistentes. A comunicação social, aliás como hoje, não tinha grande interesse por este desporto. No entanto, havia uns carolas na FPX que resolveram meter as mãos à obra e lançaram um Boletim gratuito, para divulgar tudo o que se ía fazendo; contextualizar do ponto de vista teórico o xadrez, apresentado análises de partidas; e sugerindo processos de implementação deste desporto nos mais diversos meios.


Neste contexto, gostaria de partilhar um artigo muito interessante, que apareceu no nº 2 do Boletim da FPX, publicado a 15 de junho de 1976. Nesse artigo, que surge em jeito de editorial, revisita-se a mais mediática e influente prova de Xadrez mundial do Século XX – o Campeonato Mundial de Xadrez de 1972. Nesta mensagem discute-se como essa prova e a Revolução de Abril trouxeram alterações na forma como se via o Xadrez no Portugal daqueles dias. 



1972. Campeonato do Mundo de Xadrez. Robert Bobby Fischer-Boris Spasky.
Durante mais de um mês e meio, concretamente de 11 de Julho até 1 de Setembro, o Mundo foi abalado. Não só o Mundo restrito do Xadrez, mas até e, em termos relativos, talvez mais, o Mundo todo, xadrezista ou não, muitas vezes mais político do que qualquer outra coisa. Nunca Portugal, no seu pequenino orbe, “orgulhosamente só”, dedicou tanto (ou tão pouco) ao tabuleiro dos 64 quadrados brancos e negros. Fischer contra Spasky. Estados Unidos contra URSS. As duas ideologias, a matéria desportiva misturada com a política. Divulgação do Xadrez, sem dúvida, mas acima de tudo exploração do mesmo. (…) . Hoje as pessoas que querem jogar Xadrez, sentem o desejo de o fazer, sentem o Xadrez pelo Xadrez, reconhecem o razão de o praticar, o porquê da sua importância.
(…) O Xadrez, essa espécie de ritual, mais arte do que jogo, mais ciência que jogo, deseja-se por aquilo que é, pelo fascínio que exerce.
(….) Surgem núcleos interessados em toda a parte. Para além das agremiações desportivas, culturais ou recreativas, há o que não havia – os órgãos populares de base (comissões de moradores, comissões de trabalhadores) que (…), se empenham na prática da modalidade pela importância que ela assume no processo de aquisição de uma cultura não elitista (…).


Para ver exemplos do desenvolvimento do xadrez do País, proponho que voltem a ler o artigo sobre o início do xadrez em Vila Nova de Caparica (aqui).Para saber mais poderão consultar o Boletim nº2 (cedido pela Srª Fátima Raposo) (aqui). O Boletim nº1 está disponível na página da FPX, que pode ser encontrado aqui. Infelizmente, só são conhecidos estes dois números do Boletim da FPX (i.e. a Biblioteca Nacional também só dispõe destes números)